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Lançamento de Livros

Ousar Rir
Humor, Criação e Psicanálise

Daniel Kupermann

Editora Civilização Brasileira e Livraria do Museu tem o prazer de convidar o lançamento do livro "Ousar rir (Humor, criação e psicanálise), de Daniel Kupermann

Data: terça-feira, 25 de novembro de 2003 - A partir das 19 hs

Livraria do Museu / Museu da República - Rua Cadete 153 - Tel: (21) 2205-0603

Ousar Rir
Humor, Criação e Psicanálise

dee Daniel Kupermann

Sumário do Livro

parte I - em que crê o humorista?

1. as modulações do prazer: dos chistes ao humor
1.1. "um incansável buscador do prazer"
1.2. "o humor não é resignado, mas rebelde"
2. sublimação e criação
2.1. o cavalo de schilda
2.1.1. a paixão inspiradora
2.2. a razão lúdica humorística
2.2.1. onipotência infantil: a "força motriz"
2.3. um superego esteta?
2.3.1. o herói, o órfão e o humorista
2.4. Corpo erógeno, introjeção e simbolização em Ferenczi

  parte II - por que contar piadas?

  3. "identificar-se até certo ponto com o pai"
3.1. o entusiasmo na política dos chistes e do humor
3.2. duas metáforas freudianas acerca das formações culturais    

3.2.1. o piquenique utópico
3.2.2. a comunidade dos porcos-espinhos
3.3. a saudade do pai e a idealização     

3.4. o humor e a política da psicanálise
3.5. a saudade do pai e a clínica psicanalítica    

3.5.1. as possessões de haizmann e dostoiévski
3.5.2. o disfarce de freud e a geografia kafkiana
3.5.3. A identificação sublimatória          

  parte III  - por que rir nas análises?

4. da ars psicanalítica

4.1. felicidade e alegria

4.2. distribuição de cardápios numa época de escassez de mantimentos

4.3. empatia (einfühlung), afetação e tato
4.4. a psicanálise de mau humor
4.5. o humor entre analista e analisando
5. ferenczi e a "análise pelo jogo" 

5.1. uma metáfora freudiana
5.2. um debate acerca do manejo da transferência
5.3. ferenczi e a técnica ativa     

5.3.1 uma metáfora ferencziana: o "joão-teimoso"

5.4. a amizade e o desenlace da análise
5.4.1. debate concluído?

5.5. o princípio de relaxamento e a neocatarse

5.6. línguas soltas: a linguagem da ternura e o humor
5.6.1. o magiar, o iídiche: língua materna e transgressão
6. os sentidos do grotesco

6.1. a cabeça da medusa, a obscenidade de iambe/baubó e o ato psicanalítico
6.2. do cômico a das unheimliche

6.3. de das unheimliche ao grotesco
6.4. do obsceno: a clínica psicanalítica e a sexualização do universo

6.5. a questão da garantia e a metapsicologia do psicanalista

conclusão

bibliografia

Editora Civilização Brasileira - tel (021) 2585-2000

 

VALE A PENA RIR DE NOVO

Joel Birman

Quem ri por último ri melhor, diz um famoso ditado popular, cantado em prosa e verso nas mais diversas paragens do espaço social. Enunciado que condensa os traços de disputa e de confronto sempre presentes na experiência do humor, sem esquecer, é claro, da rebeldia que a caracteriza. A gramática da comicidade se declina não apenas com a transgressão, no que isso implica questionar os interditos, mas principalmente na crença de que o sujeito possa sempre suportar e superar todas as adversidades. Seria aqui que a certeza do triunfo se imporia com eloqüência.

Para isso, no entanto, é preciso que aquele corra o risco de apimentar devidamente a sua fala, de forma que possa dizer muito mais sobre algo do que ocorre comumente. Os efeitos  de desconcerto e de inesperado, portanto, se inscrevem organicamente no campo do humor, já que esse é um ato que se realiza sempre  em contextos sociais e onde a alteridade se encontra presente. Não existe humor solitário, com efeito, já que o que está sempre em pauta no contar uma piada é fazer alguém rir à custa de um outro, que é ridicularizado de alguma maneira.

Para isso, contudo, é preciso tratar o familiar de forma não familiar, constituindo algo que seja da ordem do sinistro (Freud). Estaria aqui o efeito desconstrutivo do desconcerto. O sinistro remete historicamente para a estética do grotesco, que se disseminou bastante no Romantismo alemão (Witz), no qual o horror e o disforme se conjugam com a mordacidade. Porém, isso já é a retomada de uma longa tradição de festas populares, na Antiguidade e Renascimento (Bakhtin), no qual o sagrado era ritualmente profanado no paganismo (Bataille). Na modernidade, no entanto, a rudeza dessas marcas já estava esmaecida, pois, como dizia Nietzsche, o homem moderno não sabia mais rir. Daí o impacto de suas gargalhadas estridentes, que funcionavam como instrumento efetivo de crítica. 

Com Freud, a psicanálise retomou essa longa tradição irreverente, transformando o humor e as piadas como uma das formações do inconsciente, ao lado dos sonhos, dos atos falhos, dos lapsos e dos sintomas, buscando restaurar o que tinha sido silenciado com a modernidade bem-comportada e ascética, regulada pela lógica instrumental. Foi fundamental, para isso, a sua condição  judaica, na medida em que o humor se inscreve nessa tradição pelo imperativo de superar as adversidades provocadas pela diáspora. Tudo isso apenas foi possível porque os impasses do sujeito passaram a ser interpretados como algo da ordem do trágico e não mais como drama, pois naquele existe sempre o humor  como possibilidade, e neste, apenas o ressentimento, que se transforma em masoquismo e melancolia.

Enuncia-se assim que o humor se inscreve no campo da sublimação, como um dos seus operadores cruciais. Reconhece-se nesta as dimensões erótica e transgressiva, marco zero da criatividade, já que triunfo sobre a morte. Com isso, a psicanálise se inscreve nos registros ético, estético e político, podendo ser um instrumento de crítica da sociedade contemporânea, que perdeu infelizmente  a potência do riso, pelo conformismo que se evidencia no humor cínico e francamente pornográfico. Afirma-se, então, que vale a pena rir de novo, mais agora do que antes, certamente, na cena da melancolia contemporânea. Para disseminar o entusiasmo (Kant), enfim, no vazio entediante que nos ameaça com a imobilidade.

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