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Revista Pulsional

Número 148 - Agosto 2001

FRATERNIDADE, LAÇO DE SANGUE

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Editorial

A Editora Jorge Zahar acaba de publicar o livro de Serge Leclaire, Escritos clínicos,onde o leitor encontrará as reflexões claras e precisas de um psicanalista que honrou este nome.

Levado pela idéia de que "ser psicanalista é, na enganadora permanência de sua poltrona, a cada instante, voltar a sê-lo novamente", Leclaire sempre conservou uma vigilância em relação ao que chamaria depois de "império das palavras mortas", que podem imobilizar um sujeito por uma teoria.

Para ele, a prática do tratamento psicanalítico confronta quem a aborda com a existência do sujeito desejante, esse sujeito que pode ser dito sujeito do inconsciente e que não encontra lugar em nenhuma psicologia, assim como parece excluído de todos os enunciados. Esse sujeito teria como função garantir uma circulação entre a força do real e a fixidez das representações.

Em Desmascarar o real, Leclaire escreveu que "a prática psicanalítica é incestuosa em sua essência", introduzindo assim uma concepção do real diferente da de Lacan. O real não pertence mais à ordem do impossível, mas, pelo contrário, é aquilo a que se deve ter acesso na análise, como essa cena primitiva estrutural, em que o sujeito se gera, confrontando-se com o que depende da ordem literal, sempre marcada pelo desejo em sua função metonímica, naquilo que se refere ao sexo e à morte, isto é, à castração e ao real como a própria modalidade da relação com o real. É essa preocupação permanente de detectar os lugares e as operações que podem aferrolhar o sujeito que orienta a ação clínica de Leclaire.

Constantemente ocupado pela necessidade de esclarecer a natureza universal do incesto para ele, o incesto não é o proibido. É aquilo de onde se tem a maior dificuldade em sair Leclaire vai delineando não só uma teoria da mãe, fonte do poder que encontra no real sua base e na representação sua meta, como define uma noção de falo o que faz a diferença articulada à mãe e ao sujeito.

Em "Como pensar o sexo sem a alteridade?", ele diz que nossa grande preocupação é fazer o mesmo, e que esse mesmo é sempre feito a partir de um único modelo, que é aquele, imaginário, da mãe. Inconscientemente, fantasisticamente, o outro é sempre reduzido ao mesmo, ou pelo menos é o que predomina. Vivemos num mundo homo.

Então, quando se levanta a questão do sexo, que impõe uma diferença, essa é uma questão secundária ou principal, relativamente à alteridade?

Mas como se pode pensar o sexo sem pensar a alteridade? Como se pode pensar a diferença sexual, se estamos mais ocupados em negar qualquer diferença? Como se pode deixar advir o "Isso", como diz Freud, ou pelo menos reconhecê-lo como algo diferente? Como superar nossa compulsão de fazer o mesmo, nossa compulsão à repetição, se a resistência maior "consiste" no medo do homem diante da ausência estrutural de modelo de homem?

Leclaire acredita que é necessário reconhecer o fato de que a mãe é, antes de tudo, uma mulher para se ter uma certa liberdade nas articulações entre o real e as representações. Mas tal reconhecimento é um constante processo de retomada de uma posição outra que a incestuosa, onde estamos todos plenamente engajados.

Há, pois, na concepção que Leclaire vai elaborando do que seja a psicanálise, uma dimensão propriamente terapêutica visando a dissolução do incesto, permitindo que o vivido se transforme numa experiência. É essa atitude terapêutica do psicanalista que afasta Leclaire das instituições e, com os acontecimentos de 1968 na França, o leva para outra cena. Percebeu a necessidade, para a psicanálise, de ter acesso à universidade, não para formar diplomados em psicanálise, mas para tentar tornar inteligíveis a prática e a teoria psicanalíticas num lugar aberto. Estimulado por Edgar Faure, no seio do Centro Experimental de Vincennes, fundou, com o apoio de Michel Foucault e Jacques Derrida, o departamento de psicanálise, que não seria ligado à psicologia mas à filosofia. Seria o responsável por ele até que a ortodoxia lacaniana e o próprio Lacan o fizessem pedir demissão em fins de 1970.

Revela-se, então, em Leclaire, o reconhecimento de que a adesão à realidade enquanto forma da letra é eminentemente incestuosa e, a partir daí, ele vai em busca de formas poéticas de dizer sobre a psicose, tentando encontrar um lugar outro para o psicanalista.

Ler Serge Leclaire, seus Escritos clínicos, é uma viagem ao centro da terra psicanalítica, e constitui um exercício de revivescência do que é central nessa prática.

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