Política del Psicoanálisis

La crisis en la Internacional de los Foros del Campo Lacaniano

Discusión entre Ana Laura Prates e Silva, Domingos Infante y Christian Dunker

Caros colegas

Confiando na possibilidade de sustentar minha enunciação singular, gostaria de dizer que:

1) Escolho não responder diretamente às interpretações mais ou menos civilizadas de meu posicionamento lógico, ético e político.

2) O irônico dessa situação é que passei meses tentando argumentar nos debates – sem dúvida democráticos – que se deram no FPSP que deveríamos nos incluir sem ressalvas no Campo lacaniano já que o estamos construindo. Longe de querer excluir quem quer que seja, minha luta (por mais romântica que agora ela me pareça) foi no sentido de convencer os colegas a se deixarem incluir.

3) Não tenho nenhuma autoridade para decidir se uma associação – com suas legítimas particularidades – pode ou não incluir-se no Campo lacaniano. Muito menos poço decidir tal inclusão no que se refere aos colegas individualmente.

4) Autorizo-me, isso sim, a afirmar de modo decidido minha inclusão no Campo lacaniano, em relação ao qual julgo-me responsável e autora, junto com outros colegas no Brasil e no mundo. Se Ana Laura Prates faz parte do Fórum do Campo lacaniano e não faz parte do FPSP, isso não que dizer necessariamente que o FPSP não possa fazer parte do Campo lacaniano, ou que alguns dos futuros membros dessa associação não possam querer, ao mesmo tempo, participar desse Campo. Tenho minhas opiniões a esse respeito, mas são tão somente opiniões...

5) A posição que sustento funda-se, então, na minha impossibilidade de comprometer-me com uma associação cujo estatutos eu não estou de acordo pois – obviamente na minha interpretação – entram em contradição com o que eu entendi ser a proposta do Campo lacaniano.

6) Desde o lugar que escolhi – novamente por razões lógicas, éticas e políticas – para dar continuidade a meu percurso e lançar o meu trabalho, terei muito prazer em continuar realizando intercâmbio com colegas de outras orientações teóricas e/ou políticas, de forma coerente à minha história de vida e meu caminho pela psicanálise

Envio, a seguir, um texto que escrevi para as reuniões em torno dos Estatutos do FPSP no qual expus meus argumentos, os quais, democraticamente não foram aceitos pelo colegiado. Acatando – sem ressalvas quanto à legitimidade do processo – a decisão da maioria quase unânime, concluí que seria preciso outro lugar para lançar minha aposta no que pude entender ser o retorno a uma Escola de psicanálise.

Segue o texto (escrito entre os dias 14 e 21 de junho e apresentado para a reunião do dia 22 do mesmo mês)

Aos colegas do Fórum (sobre o anteprojeto de estatuto)

Pensei em fazer comentários específicos a cada "destaque" dos artigos, mas logo deparei-me com uma dificuldade: não faria sentido apontar minha divergência em relação a pontos específicos do anteprojeto pois, na verdade, estou partindo de uma certa lógica que me norteia e é essa lógica que gostaria de trazer para discussão.

Vou tomar a liberdade de deixar de lado – momentaneamente – a dimensão política para não confundir meu raciocínio. No final da argumentação pretendo retomar tal dimensão e extrair as conseqüências – e eventuais contradições – entre essa lógica e a ética que gostaríamos que a norteasse.

Ponto 1: Sobre o Campo

Se há algo sobre o que concordamos é que a Psicanálise nos faz "entrar em contato" com o gozo. Daí toda a complexidade da especificidade – inegável – de sua transmissão. Por essa razão, tenho muita dificuldade de imaginar uma associação, instituição, etc. que se queira psicanalítica, sem antes delimitar um campo. Isso pensando na transmissão, pois em nível de interlocução teórica, é claro que poderíamos nos associar sem muitas diferenças em relação aos demais campos do saber.
Importa, então, precisarmos nosso campo. Justamente, tudo leva a crer que não se trate de um "campo de saber" a mais, mas sim de um "campo de gozo". Ora, estou utilizando campo no sentido médico: há que delimitar o campo antes de realizar-se a cirurgia. Também no sentido metodológico: "qual o campo da pesquisa?" Poderíamos dar vários nomes a esse campo. Se vários poderiam ser os nomes, terá que ser algum. Alguém propôs – e a meu ver de modo bastante coerente e sensato – que o nome seja "Campo lacaniano" . Por que não aceitá-lo? Constituiria isso uma submissão política? Não me parece, mas por enquanto passo essa questão. De qualquer modo, volto a enfatizar: do meu ponto de vista o campo não é um efeito, mas uma "causa", pois responde a uma lógica. É daí que pretendo extrair as demais conseqüências sobre o funcionamento de nossa associação. Não sei como poderíamos incluir tal pertinência a esse !
campo nos Estatutos de nossa Associação, mas acho isso fundamental. Como psicanalistas, não podemos minimizar a importância da "nomeação" e os efeitos de realização que essa nomeação opera.

Ponto 2: Sobre a separação entre formação e ensino

Minha posição sobre esse ponto é correlata à posição oficial do Espaço Escola.

Ponto 3: Sobre as relações entre o local, o nacional e o internacional

Agora gostaria de incluir na discussão a questão de nossa organização política. Não podemos governar (outro impossível) com dispositivos analíticos. Tal proposta seria no mínimo ingênua e, na pior das hipóteses, ideológica. Enquanto membros de uma associação teremos que lidar sempre com a "república" (coisa pública). No entanto – e aí reside nossa dificuldade – a "coisa" que gostaríamos que se mantivesse viva não tem nada de pública; bem ao contrário, as massas talvez sejam sua pior ameaça. Assim, se não podemos governar com dispositivos analíticos, tampouco preserva-se o analítico com dispositivos políticos. Eis, a um tempo, nosso paradoxo e nosso desafio. Muitos consideram tal desafio impossível de ser solucionado e devemos respeitá-los, pois não deixa de ser uma posição ao menos coerente com certos argumentos. No entanto, estou partindo do pressuposto que nós que chegamos até aqui nesse Fórum, !
pensamos ser possível, não ultrapassar tal paradoxo, mas suportá-lo e propormos a ele um tratamento possível
Além desse pressuposto, parto também de outro: não tenho razões para desconfiar das intenções democráticas dos atuais participantes assíduos do Fórum, mesmo daqueles de quem não conheço o passado político-ideológico. A própria história da constituição de nossa comunidade parece-me apontar para uma disposição democrática talvez sem precedentes na história da psicanálise em São Paulo. Sabemos, no entanto, que a democracia – o menos pior dos regimes – trata da coisa pública não sendo suficiente para cuidar da psicanálise. Não ser suficiente não quer dizer que não seja necessária – e temos que zelar por sua preservação – pois já vimos que se a democracia não garante o analítico, outros regimes destroem-no completamente.
Isso posto, caberia pensarmos em como zelar pela democracia sem descuidar do analítico – ou ingenuamente considerarmos que em cuidando do democrático estaríamos espontaneamente cuidando do analítico. A discussão a respeito das relações entre o local e o nacional entram nesse contexto, do meu ponto de vista. E é sobre esse ponto que eu gostaria de colocar em debate minha posição, do modo mais claro, democrático e civilizado que estiver ao meu alcance – não obstante o mal entendido inerente a toda e qualquer comunicação.
Ora, é certo que considero de fundamental importância o reforço dos laços que constituem nossa comunidade e o reconhecimento dos diferentes percursos e transferências que o constituem. Tanto assim que fui desde o início contrária à idéia do mítico "grupo dos oito" e mais do que isso, escrevi um texto denominado "Sobre a questão do múltiplo em São Paulo" que apresentei no "Encontro nacional dos Fóruns" e infelizmente não coloquei na rede. Mas realmente estou tendo algumas dificuldades em entender a defesa pela autonomia local que alguns de nós consideram tão imprescindível, sob o argumento de que o universal do nacional seria anti-analítico e/ou ressuscitaria certas vocações autoritárias e centralizadoras. Minha dificuldade – e estou disposta a deixar-me convencer por argumentos contrários – está em entender em que o universal estadual difere do nacional? Não estou de modo algum negando de que se trata de um un!
iversal com o qual temos que lidar (o paradoxo já mencionado). Mas será que temos alguma ilusão a respeito de nosso talento para fabricar nossos próprios ditadores? Será que Maluf é melhor que ACM? Ou Clinton – e não Milosevic – seria a reencarnação de Hitler, como querem os sérvios? Ou será que em matéria de ditadores, a nacionalidade é o que menos importa, como assistimos no histórico caso do julgamento de Pinochet?
Estou citando esses casos, pois não é de política que estamos falando? A bem da verdade, devo reconhecer que apesar do meu parco conhecimento do assunto, a idéia de federação não me assusta tanto assim. Acho um privilégio morar num país tão diversificado que, no entanto, sofre muito pouco dos delírios separatistas de outras terras. Não vamos reviver a Revolução de 30, por favor. Citando Chico Buarque: o meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano, meu maestro soberano foi Antônio Brasileiro... É assim que minha identidade civil está constituída. Antes de paulista, sinto-me brasileira. Mas vá lá, simpatizo-me pela idéia da confederação, talvez por seu caráter inovador. Proponho-me a defendê-la em âmbito nacional. Mas colocar isso como condição para admitirmos ligações com outras associações (como diz o artigo 10 do anteprojeto) parece-me assustador. Não estaríam!
os gastando muita munição no alvo errado?
Se temos que escolher, dentre os regimes possíveis de "república", aquele que mais nos parece coerente e, dentre eles, elegemos a confederação como o mais adequado, muito bem, façamo-lo! Mas que julguemos que apenas esse regime nos preservaria dos desvios autoritários e outro (a federação) nos levaria à ditadura ou à submissão "estrangeira" parece-me falacioso. Tanto numa federação, quanto numa confederação, teríamos igualmente que nos comportar como cães de guarda incansáveis do analítico pois nada garante, nem em um nem em outro caso, que a ameaça do "Um" se faça sentir. Ela está sempre rondando... Penso que a idéia de confederação transmutou-se de uma possibilidade viável e simpática de laço social em uma imperativo superegóico (se e somente se). É possível que as cidades do interior de São Paulo queiram preservar sua autonomia em relação a nós, afinal, São Paulo é um estado maior do qu!
e muitos países da Europa... Esse raciocínio, levado às últimas conseqüências leva à posição – respeitável, mas diversa da minha – dos independentes: cada um é mestre de si mesmo, com sua autonomia bem preservada, é claro. Não tenho nem tanta certeza de que a própria democracia – quanto à psicanálise tenho convicção de que não necessariamente – seria mais bem cuidada numa confederação que numa federação... É pagar pra ver e eu estou apostando!

Pelas razões expostas, considero que a discussão sobre nosso regime político seja sim importante, apóio uma tomada de posição de São Paulo pró confederação no âmbito nacional, mas jamais colocaria a escolha ou não por esse regime como condição para minha participação no Campo lacaniano. Minha condição para tal participação é, de um lado, a disposição incansável para a manutenção do analítico – ainda que não tenhamos fórmulas pré-concebidas para isso – e, de outro, o respeito pelas diferenças (no planeta Terra, no meu país, no meu estado, no meu bairro, no meu consultório e na minha casa.)

Ana Laura Prates e Silva


Cara Ana Laura,

É bom que vc aposte na possibilidade de sustentar sua enunciação singular, de resto elas ocorrem de qualquer forma, e as mais felizes são as que falham. Quero me parabenizar com você por ter saído do silêncio, e não me surpreende que isso venha de você. Há momentos onde o não tão velho processo da "omertà" parece entrar em ação. Não podemos deixar isso acontecer.

Senão vejamos:

No item dois vc diz: "O irônico dessa situação é que passei meses tentando argumentar nos debates- sem dúvida democráticos- que se deram no FPSP que deveríamos nos incluir sem ressalvas no CL já que o estamos construindo. Longe de querer excluir quem quer que seja, minha luta(por mais romântica que agora ela me pareça) foi no sentido de convencer os colegas a se deixarem incluir.." Algumas questões: onde foi ou de quem vc ouviu que nos nos excluíamos do CL? Sem ressalvas quer dizer o que? Então vc admite que a proposta era se ligar, porem com ressalvas? quais eram as ressalvas? Veja , é importante esclarecê-las, pois elas feriram sua lógica, ou sua ética ou a sua política. Como juntar, "estamos construindo" com "sem ressalvas". Se não pode haver ressalvas, então ele, o CL, já está construído? " Em construção" implica na possibilidade de ressalvas, ou não? Talvez vc quisesse dizer incondicionalmente? Isso não seria um fechamento segregacionista do CL? Senão, pode ter ressalvas....

"Se deixarem incluir!? se deixarem incluir!?,"che parollaccio", essa é de bandeja. Nas suas prateleiras, lógica, ética e política vc se deixa? De que lugar vc comete esse primor de enunciação ?

"Luta romântica",em tempo vc reconhece, vencer o con, digo, convencer é sempre dessa ordem, o que vc achava, que nós não temos lógica, política e ética? Nosso debate era uma busca de posição não um con-vencer.

Vamos ao item 3"Não tenho nenhuma autoridade para decidir se uma associação- com suas legítimas particularidades- pode ou não incluir-se no CL. Muito menos poço decidir tal inclusão no que se refere aos colegas individualmente ." Questões: Mas no seu ato de fundação do fórum do CL em SP vc não está afirmando que nos estamos incompatíveis com o CL? Não é assim então? Lá vc se autoriza e aqui não? Quando vc afirma que não se autoriza vc está supondo que isso lhe possa ser imputado? Então vc está supondo que alguém se autoriza? No caso quem?

"Muito menos poço...." Esse poço é aquele que em muitas histórias míticas se jogam os indesejáveis? Vc sabe, em linguagem de construção naval poço tb quer dizer ancoradouro ( il y a de la chance, quand même...nous remercions)

Item 4-"Se Ana Laura Prates faz parte do FCL e não faz parte do FPSP, isso não quer dizer necessariamente que o FPSP não possa fazer parte do CL, ou que alguns dos futuros membros dessa associação não possam querer, ao mesmo tempo, participar desse Campo. Tenho minhas opiniões a esse respeito, mas são tão somente opiniões." Ai, ai, ai, as coisas estão se complicando. Estamos em que prateleira, lógica, política ou ética? É isso que dá por essas coisas em prateleira separadas. Então vc admite que há compatibilidade do FPSP com o CL? E o que está dito na fundação Do FCLSP vc não assinou? Porque vc nos explica isso tudo assim centrado na sua pessoa?

"Ao mesmo tempo" se refere a que ? Que ao mesmo tempo nos somos compatíveis e incompatíveis com o CL? As precisões lógicas começam a fazer Aristóteles revirar-se na tumba ! Se se pode estar no FPSP e ir para o CL para que outro fórum?

Item 5-"A posição que sustento funda-se, então, na minha impossibilidade de comprometer-me com uma associação cujo estatutos eu não estou de acordo pois- obviamente na minha interpretação- entram em contradição com o que eu entendi ser a proposta do CL." Pronto, estamos fora de novo. Ai,ai,ai.....

Item 6-"Desde o lugar que escolhi- novamente por razões lógicas, éticas e políticas- para dar continuidade a meu percurso e lançar o meu trabalho, terei muito prazer em continuar realizando intercâmbio com colegas de outras orientações teóricas e/ou políticas, de forma coerente à minha história de vida e meu caminho pela psicanálise." Não entendi, me explica, do FPSP vc sai denunciando que lá há essa abertura e que isso nos exclui do CL, ou não? Mas sua coerência pessoal e de vida é compatível com a que defende o FPSP! De qual prateleira saiu isso?

Bem vou parar aqui o comentário ponto a ponto da sua mensagem. É possível que volte a ela pois respeito a sinceridade de suas intenções.

Vamos sair um pouco das prateleiras, derrubá-las um pouco como Caetano nos recomenda em Proibido Proibir e vamos falar do que um ato revela, onde todas essas prateleiras se enroscam e realmente se revelam. Refiro-me ao ato de fundação seu, e de Dominique . Assim, saímos do visgo imaginário.

Fala-se tanto da incompatibilidade do democrático e do analítico. Talvez exista, é algo que deve ser muito bem elaborado e com muita prudência. De uma coisa estou certo, a lógica democrática tem seus rigores e o discurso analítico tem os seus. Quando se aplicam, ambos rigorosamente não há tanta incompatibilidade. O que quero dizer é que na maioria das vezes em que se fala dessa incompatibilidade o mais comum é se perceber que há falta de rigor ou traição de um ou do outro.

Voltemos ao ato. Vc participou do debate e da votação do estatuto. Quando fazemos isso, está suposto ( não há democracia possível sem isso, e vc diz em seu texto que nunca viu, eu tb não, a psicanálise avançar em outros regimes), está suposto, eu dizia, que vc aceitará ser minoria. Quando o que está em jogo fere princípios básicos, a atitude democrática é não votar, continuar o debate ou sair sem votar. Vc e Dominique foram as primeiras a quererem votar e parar o debate. Vcs perderam por 11 a 2. Isso configura o ato de fundação, na madrugada daquela mesma noite da votação, como um ato golpista ( sorry, a lógica, a política e a ética exigem ,as vezes, definições duras). Que destino terá a comunidade, ainda não existente, fundada dessa forma, só a história dirá. Mas esse dado a marcará para sempre nas suas repetições, isso é de estrutura, vc sabe. E marcará tb o CL. Quanto às adesões, não se preocupem, nossa cultura é suficientemente frágil em tradições democráticas para nada exigir de vcs. Até que nos brasileiros nos possamos dar conta do preço que pagamos por isso.

O ato de vcs revela não a contradição entre o democrático e o analítico, mas o quanto faltou a vcs analítico para suportar o democrático. É isso que me preocupa em relação ao CL, será que o político de novo e tão cêdo já engoliu o analítico?

Cordialmente

Domingos Paulo Infante


Oi Ana,

Não penso que o diálogo que cercou a saída de vocês realmente tenha chegado a uma contradição não dialetizável. Acho que há vários temas e circunstãncias envolvidos que não encontraram um nível de clareza e distinção suficientes para que possamos falar em posições irredutíveis. Neste sentido concordo com o que Jairo e Angélia disseram sobre o caráter salutar da "crise em São Paulo". As intervenções de Sauval indicam também que nossa questão merece crédito para discussão mais ampla. Talvez o desenrolar dos acontecimentos tivesse levado realmente a um ponto irreconciliável. Mas penso que no caminho muitas das teses em jogo pudessem ser enriquecidas com ganhos para todos. Gostaria de levantar alguns pontos circunstanciais e temáticos para que este tempo de elaboração conjunta ainda possa se realizar:

1. Os precedentes: fomos eleitos para a Diretoria e o Espaço Escola - isso implica, em responsabilidade para com quem, penso, confiou em nós segundo limites estabelecidos. O objetivo dos estatutos (que você e Dominique sempre estimularam a redação) era triplo:
a) sedimentar o trabalho que vínhamos desenvolvendo reunindo alguns princípios gerais de funcionamento. Isso me pareceu sempre um tom muito forte no Fórum-SP. Colocar o trabalho, a pesquisa, a interlocução à frente das questões "políticas", de filiação ou de relação com outros estados e países. Isso deveria acontecer como efeito de nossos encontros e não colocado como uma finalidade que subordinaria todo o resto.
b) apresentá-los como uma proposta para os outros participantes do Fórum, discutir isso longamente e chegar, eventualmente a algum acordo. Assim, os estatutos não correspondiam ao modo como as coisas efetivamente se estabeleceriam se bem que constituíssem um momento importante de um eventual consenso. A participação de outras pessoas talvez contribuísse para que pudessemos entender melhor o que vocês estavam argumentando
c) permitir que participássemos da formação do Campo Lacaniano com um projeto, uma posição. Isso poderia levar futuramente a um ponto irreconciliável, mas teríamos muito a ganhar com a experiência dessa interlocução. Participando com um projeto onde as pessoas se reconhecessem tentávamos evitar que as enunciações particulares fossem utilizadas como expressão pessoal de um poder coletivo, como aconteceu muitas vezes na história da psicanálise e também na cultura brasileira. As enunciações singulares não seriam sufocadas por isso, pelo contrário, sempre houve espaço no Campo Lacaniano para que elas se fizessem ouvir e individualmente as pessoas poderiam participar. Como aliás vários dos membros do Fórum- SP participam de outras Associações.

2. A incompatibilidade com o Campo Freudiano a) ela supõe que o Campo Freudiano já está feito e que sabemos muito bem quais são seus princípios e condições. Objeção: o que a comissão de estatutos está elaborando, e que a Graça colocou na rede, é, penso, uma proposta de estatutos, alíás como a nossa em SP. Ela será discutida, espero, e depois sim seria um momento próprio para uma decisão. Dizer que não é possível trazer para a discussão uma posição que não é no fundo a sua é dizer que não é possível separar o público do privado, separar o que são suas opiniões do que seu lugar e função exigem. Isso não me parece de saída totalmente contrário ao discurso analítico (mas há muito o que pesquisar sobre isso). E mesmo se terminássemos decidindo que há esta contrariedade penso que a colocação de Jairo e Angélia de que o Campo Lacaniano não compreende apenas o discurso analítico é importante. E no quadro destes outros discursos a importância da separação entre público e privado representa uma posição ética muito defensável, você não acha ? É também, em face dessa confusão entre público e privado que se tornam possíveis essas "interpretações selvagens" que dificultam ainda mais a interlocução.

3. Sobre a forma e condução dos argumentos a) de fato algumas pessoas se exaltaram, faltou polidez, mas não é inclusive isso que deveríamos enfrentar como parte do trabalho com a diferença ? b) na última reunião insisti com vocês se havia algum argumento novo, uma informação que pudessem trazer a partir da participação de vocês no encontro do Rio, se o pedido de re-votação implicaria em uma atitude mais "drástica" de vocês, etc. Ora, mesmo o argumento "se não for assim eu saiu" seria algo que talvez pudesse redimensionar o encaminhamento dos estatutos. Não penso que ceder, seja sempre ceder de seu desejo, isso nos colocaria em cheio na cultura da intransigência que aliás nada se diferencia do mal-estar contemporâneo. c) quando começamos a discussão sobre os estatutos o Rodolfo colocou, e me pareceu ter assim ficado estabelecido, que devíamos procurar evitar o acirramento de posições para não provocar cisões em torno de questões menores. A saída de vocês, mas também da Beti e da Bertile representa, para mim, um fracasso. Facasso da idéia de trabalhar ativamente contra o cessionismo lacaniano, de fazer habitar as diferenças e produzir com elas alguma outra coisa. Um duro golpe contra o que me faz interessar pelo Fórum.

Abraços, Christian

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