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2001 - A ODISSÉIA LACANIANA
Colóquio Internacional: Lacan no século

Breves crónicas das atividades
Quinta, 12/04/2001

Aline de Alvarenga Coelho

Colóquio: Psicanálise e Instituição de Saúde Mental.

Coordenação: Hugo Fagundes e Marie-Jean Sauret

Guy Felix Duportail - Lacan e a filosofia do século XX.
Segundo Guy, Lacan dá aos filósofos uma nova forma de a priori. Lacan nos traz a lógica do gozo, lógica do inconsciente, lógica do significante. Seria uma ontologia formal? O objeto a não é o objeto vazio dos lógicos. A descoberta do real teve conseqüências para a filosofia do século XX e do XXI, provavelmente.

Márcia Montezuma - A clínica na saúde mental.
Freud realiza uma oposição entre a psicanálise e os psiquiatras, e não a psiquiatria. Há vários pontos de contato entre a psicanálise e a psiquiatria. A separação começa com a exclusão do sujeito. A reforma psiquiátrica, por exemplo, apresenta muitos pontos de apoio na psicanálise. É preciso restringir o que seria saúde mental - atendimento psi em geral ou no serviço público? Saúde, segundo a OMS é bem-estar físico, psíquico e social. Isso contraria o que Freud aponta, ou seja, que o mal-estar é inerente ao ser humano, enquanto submetido a linguagem. Para a medicina, saúde é o silêncio dos órgãos. Para a psicanálise, o inconsciente não pode se calar. Podemos pensar, baseados em Foucault, na clínica do olhar X clínica da escuta. Na primeira, é preciso tornar a ciência ocular. A doença se apresenta ao observador enquanto sintomas e signos. O significante está colado ao significado. O sujeito fica dividido pelos saberes: corpo - psiquiatria biológica; social - psiquiatria social; linguagem - psicanálise. A clínica da escuta, a seu turno, coloca o clínico na posição de objeto a. Há o privilégio da singularidade e do não saber sobre aquele sujeito. Falar é falar a outros. O sujeito tenta situar sua posição em relação a seus próprios ditos, através da retificação subjetiva. É a passagem do queixar-se dos outros ao falar de si com responsabilidade. Para isso, é preciso supor um saber ao analista, ou seja, é preciso haver transferência. Entrevista preliminar não é triagem, é escutar o sintoma e o que o sujeito faz de seu sintoma.

Jean Pierre Drapier trabalha em um centro médico psicopedagógico. Ele afirma que a psicanálise está presente nas instituições, mas é mais uma das terapias ali. As instituições são formações do social, são resultado da ação instituinte. Um laço social é laço com discurso. A instituição é o nó dos 4 discursos. Se a psicanálise fica no lugar de sujeito que sabe, ela passa a reproduzir um discurso universitário. Segundo Jean Pierre, não se pode reproduzir os erros cometidos pela IPA. O analista, ao fim de um tratamento, fica no lugar de objeto a; esta é a sua posição.

Ana Cristina Figueiredo indica um erro no nome de seu trabalho: não é "O que faz o psicanalista de saúde mental?", mas sim "O que faz o psicanalista na saúde mental? " Saúde mental no Brasil de hoje é sinônimo de reforma psiquiátrica. Este processo já dura duas décadas e foi intensificado nos últimos dez anos. Além disso, em 6/4/2001 foi assinada a Lei Paulo Delgado, ou seja, houve o "cumpra-se" a algo que já estava sendo debatido. É a exigência da lei. Muitos psicanalistas e psiquiatras foram agentes da reforma. O psicanalista da rede pública torna público seu próprio trabalho. Na instituição, o trabalho costuma ser em equipe, é um trabalho coletivizado. Além disso, a reforma exige a convivência, pois os pacientes convivem com os profissionais. O trabalho do analista não é especificamente o de conviver nem o de convencer. Mas a convivência, inevitável e necessária, também traz complicações. Ela toma os ensinamentos de Lacan em A Direção da Cura.

Para o analista há a tática (interpretação) na qual ele é livre. Na estratégia (transferência) ele já não é tão livre, pois essa estratégia é do analisando, restando ao analista apenas seu manejo. Acima destas duas, há a política, que diminui mais ainda a liberdade e coloca questões. No trabalho em equipe, pode haver uma transferência de trabalho, como no cartel, que é a espinha dorsal de uma escola. Mas a instituição não é uma escola, nem tem apenas analistas. Na verdade, os pares não são tão pares assim, pois são de profissões diferentes. Isso pode gerar corporativismo por um lado e narcisismo das pequenas diferenças, por outro. Uma tentativa de solução apontaria para o discurso do analista, situado como efeito do discurso da histérica e indo numa progressão ao discurso universitário. O discurso da histérica é o de que querer saber. O discurso da universidade apresenta o risco de colocar o saber como regente. Na instituição, o discurso analítico deveria operar junto com outros discursos. --

Simpósio - Psicanálise e Sociedade - Droga e Violência: clínica, política e ética.

Coordenação: Clara Lucia Inem

Michel Lapeyre fala da presença da psicanálise no mundo. Não há ambigüidade na violência: há posições diferentes quanto a ela. Há aqueles que reconhecem sua violência. Há aqueles que a atribuem ao Outro ou outro. Os primeiros conseguem se adaptar melhor a violência e podem ser considerados agentes do discurso histérico. No discurso do capitalista há a foraclusão da castração e das coisas do amor. A falta é suprimida o mais rápido possível através de um ultra-utilitarismo. Há violência do lado do indivíduo proletário - é a corrida ao mais-de-gozar. No discurso do capitalista, o homem é descartável e reciclável. Não há ética. A violência aqui não é motor de transformação, mas ela se recicla sem cessar e se torna mais forte - talvez ilimitada. Este discurso está destinado a se desfazer e desfazer o laço social. O discurso analítico dá um destino a singularidade.

Fernando Grossi nos fala do desvario do gozo ao desvario do sujeito. ele faz parte do projeto Pró-Vida, que acolhe pessoas vitimizadas pela violência para que dêem testemunhos com segurança. Ele relata um caso de um sujeito que traça sua história sem o saber e sem se implicar.

Diana Rabinovich fala sobre o sadomasoquismo. Estes atos são condenados como atentados aos direitos humanos. Ela começa a falar sobre as novas práticas libertinas, as père versions, perversions. Para isso, ela nos recomenda a leitura das obras de Georges Bataille - livros sobre o erotismo. No sadismo e no masoquismo haveria uma degradação da lei no Outro. Sádicos e masoquistas tentam tamponar o furo do Outro. No seminário 7, Lacan fala de ética vinculada ao mal radical (Kant). O sádico defende a vontade do gozo como possível diante do desejo como desejo do Outro. Perversão da lei. Não é transgressão, apenas distorção da lei, que está no Outro modificada, mas existe. O masoquista sustenta como objeto o Outro que se sacrifica. Ele se torna objeto de intercâmbio para não ser semblante de objeto a. -- (Ver reseña mas extensa de esta exposição)

Simpósio Psicanálise e Sociedade - Psicanálise: uma profissão? Regulamentável?

Coordenação: Luis carlos Nogueira

Danielle Silvestre fala da psicanálise exercida em instituições por médicos ou psicólogos. A formação de analistas seria padronizada através da exigência formal de análise pessoal e ensino teórico. O psicanalista é formado por sua análise. É o analista que terá sido produzido (a posteriori). Os seminários de Lacan eram voltados para um público vasto e não apenas a psicanalistas. O analista se autoriza por si mesmo. Após a proposta do passe, um grupo se separou de Lacan, não aceitando que a qualificação de psicanalista fosse dada através de outros. Depois da dissolução, cada grupo quer a liderança e não quer dividir o poder. A psicanálise não é psicoterapia, mas é terapêutica. Ela não deve negar este benefício e nem se limitar a formação de analistas.

José Monsegny fala da formação do analista. Psicanálise não é uma profissão - é uma práxis. A condição sine qua non de um psicanalista é sua análise pessoal, onde ele efetua uma mudança de posição subjetiva no discurso. O lugar do analista é o de resto.

Graça Pamplona fala que a psicanálise não é uma profissão - pelo menos, não nos moldes tradicionais. Será o psicanalista um produto novo nas prateleiras? Ela faz comentários sobre o projeto de lei que visa a regulamentação da profissão de psicanalista. O psicanalista escapa das regulamentações em geral. No entanto, a fundação da IPA, em 1910 foi uma primeira tentativa de regulamentação profissional. Estará a AMP seguindo os padrões da IPA? Lacan afirma que nenhuma regra exterior pode determinar o percurso de análise de um sujeito. Lacan propõe um processo de formação mais rigoroso que a rigidez da IPA. --

Colóquio: Família, educação e psicanálise

Coordenação: Sonia Altoé e Suy-Lan Siqueira

Leandro dos Santos - psicanálise profilática? Este seria um equívoco de Freud, mas há articulações entre a psicanálise e a pedagogia. Entre 1926 e 1937 foi editada uma revista com o nome Pedagogia Psicanalítica. Durval Marcondes foi o difusor da psicanálise no Brasil e falava em higiene mental na educação. A psicanálise era aplicada de forma descontextualizada e os problemas da educação eram centrados no aluno. Não há questionamento sobre outros fatores. Há crianças problema (expressão de Durval Marcondes). Mas o pensamento de Lacan começou a influenciar o pensamento de pesquisadores brasileiros. Lacan realiza uma leitura dos fenômenos de cunho social. O diálogo entre psicanálise e educação seria permeado pela ética - singularidade do sujeito.

Rosane Melo fala sobre a violência na e da escola. A escola é fundada em saberes históricos e modelos sociais. É um lugar de reprodução das desigualdades sociais. A aprendizagem escolar pode gerar exclusão, na medida em que aqueles que são mal-sucedidos na escola são mal-sucedidos na vida social. Não há igualdade de oportunidades e o ideal de homogenização se revelou impossível. Segundo Rosane, há sempre, em algum nível, carência do pai nos casos de adolescentes delinqüentes, no sentido em que não há reconhecimento de uma filiação. Nestes casos, mesmo que não se trate de foraclusão, há falta de função paterna. São sujeitos em conflito com a lei.

Daniela Chatelard fala da relação entre psicanálise e medicina e mãe-bebê. Relações de objeto. Das Ding é o objeto para Freud. Lacan inventou o objeto a, que foi seu momento de ruptura. A experiência de ação específica faz a inscrição na linguagem , a passagem da demanda ao desejo. Ela fala do objeto transicional como ponto de separação entre o desejo e a necessidade.

Delma Gonçalves fala sobre a família na contemporaneidade. A constituição do sujeito sempre deixa um resto excluído dos limites da linguagem. O impossível é o que não cessa de não se escrever. Freud sai do impasse do impossível pela via do mito: parricídio. Filhos - renúncia ao gozo. Lacan parte do Édipo enquanto metáfora paterna. Ele sai do mito. O pai é tomado como função em consonância com o significante. A família contemporânea mostra a decadência da família nos moldes patriarcais e ideais estabelecidos. A partir daí, ela realiza uma análise do filme de Pedro Almodóvar: Tudo sobre minha mãe.

Aline de Alvarenga Coelho

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